Por que o Funk nunca morre?


 




Mc Dricka é um dos maiores talentos da nova geração do Funk.

     Eu sou um amante da música. E quando digo isso, não enquadro classificações ou qualificações, música é música. Cada batida, cada letra, cada melodia, cada nota, carrega consigo uma história. Vou até além, carregam ''histórias''. Eu tinha uns 15 anos quando compreendi um pouco da dimensão do funk na minha geração. Nas festas, principalmente, o ritmo era implacável, todos dançavam, o calor humano misturava-se com outras emoções da juventude e era quase inevitável ficar isolado naqueles fenômenos. Em certos momentos, eu observava, apenas observava, estático, talvez com a consciência um pouco deturpada devido às doses de álcool (''me desculpa pai, me desculpa mãe'') e eu compreendia que estava vivendo. Eu estava num ninho de boas lembranças que nasciam quase instantaneamente. É, Machadão, ''Aos quinze anos, tudo é infinito''.

      O gênero cresceu nos Estados Unidos, veio pra cá nas vozes de Tim Maia e Cassiano, mas o funk brasileiro é único. Nos anos 70, o lendário DJ Big Boy (1943 - 1977) promovia os ''Bailes da pesada'' no Canecão, no Rio de Janeiro. Ali a juventude carioca descobria o soul music, o groove e o funk. Eram os tempos de ditadura, a liberdade escondida, os artistas exilados e periferia cada vez mais sem voz. Logo depois, esses eventos tornaram-se os famosos ''Bailes funk''. As manifestações culturais nascem da necessidade: seja de um discurso, de uma identidade ou de uma luta. O funk e o rap vieram dessa ideia, havia uma voz que precisava ser escutada e uma beleza que precisava ser vista. Nos anos 90, a violência urbana era alarmante, e essa realidade foi descrita nas letras de funk, como no ''Rap das armas''. No entanto, além disso, a música ''Eu só quero é ser feliz'' discursava uma luta, uma busca por direitos. Novamente, a arte imitava a vida. 





          A poesia não é erudita. Não pertence a ninguém, tampouco é sinônimo de falsos preceitos ideológicos. A poesia é independente, manifestada em todos os séculos e refém das condições humanas, o ser é um eterno poema inacabado. O funk é uma das maiores manifestações poéticas que eu já vivi, e não há nenhum exagero nisto. Voltando ao início, ''carrega música carrega consigo uma história''. Obviamente, o gênero não escapa das inovações, e isso é essencial, viver é adaptar-se, mudar é sobreviver. E de sobrevivência entendemos bem aqui. Mas, desde às suas origens, o funk não deixa escapar uma vertente: a realidade. Assim como o samba no início dos anos 30, a realidade é musicada por quem a vive na pele. 


Baile Funk nos ano 80. Foto: Folha de S. Paulo




         
Baile Funk nos anos 70. Rio de Janeiro. 



            Fernanda Adrielli, de 21 anos, é um dos maiores talentos da nova geração do funk. Talvez esse nome seja estranho, porque não é com ele que a ''Rainha dos fluxos'' é conhecida. Nas noites e no mundo, a magistral MC Dricka. Porém, até junho de 2019 a cantora pensava em abandonar a carreira. Com dificuldades até para comprar comida, o sonho de MC parecia distante. Mas a sua primeira de música de sucesso, ''Empurra, empurra'', mudou essa realidade. Com mais de 50 milhões de visualizações, hoje ela é inabalável no cenário. Em entrevista, ela diz "Eu mal tinha o que comer e meu objetivo era que a música batesse 20 mil visualizações. Aconteceu tudo muito rápido pra mim. É muito louco pensar que sou destaque no funk, ver todo mundo cantando minhas músicas onde passo, as pessoas gostando do meu trabalho." . 

''E nós tem um charme que é da hora, da hora
Um sorriso que é de impressionar
E nós desenrola nas palavra, não leva desaforo pra casa
Eu que posso me bancar''

E nós tem um charme que é da hora. 2020


              Algumas perguntas foram criadas apenas para serem perguntas. Não exigem uma resposta concreta. Mas, afinal, ''Por que o funk nunca morre''?, não me dou ao trabalho de resolver esse enigma, embora eu acredite que em cada more um funk próprio. Quando criança, passava horas ouvindo as melodias românticas de Claudinho e Bochecha, tocavam no programa ''Amor sem fim'', na Rádio Liberal Fm. ''Fico assim sem você'' e ''Só love'', deveriam ser os hinos do primeiro amor. A grande verdade é que o funk é imortal, resiste, se adapta. Novos discursos chegam, novos poetas surgem, e a luta continua. Não sejamos só mais um silva. 


Fonte:

https://www.todamateria.com.br/origem-do-funk/

https://www.buzzfeed.com/br/guilhermelr/mc-dricka-baile-funk-sao-paulo

https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/diversao-e-arte/2018/08/07/interna_diversao_arte,699492/funk-brasileiro-das-raizes-classicas-ate-a-nova-geracao-frenetica.shtml

             

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